A brisa da tarde...
Imagem de autor desconhecido
Entre o arvoredo sereno e alta nuvem
que meu cristal limita em círculo completo,
tu surges a sorrir, deus desejante,
com a brisa matinal, a ver-me despertar;
e a sorrir eu desperto também
para este sonho em vigília que me chama.
E entre todos os meus sonhos, deus, em momentâneos
alertas, bem-estar do adormecido,
tu intercalavas, desejado,
como as ondas de ouro deste mar,
esta certeza que me ocupa agora
o meu dia com minha noite, a minha noite com meu dia.
E agora, transformado o sonho em acto,
que dinamismo me levanta
e me obriga a crer que isto que faço
é o que posso, devo, desejo fazer;
este trabalho tão saboroso de falar de ti,
de falar de mim de todas as maneiras, na forma
que me restou de todas, para ti!
Poema "A forma que me resta" de Juan Ramón Jimenez